Sonetos:“Longe de Laura inveja a região que a possui”Francesco Petrarca
(Tradução de Almansur Haddad)
Nem ave ninho ou fera selva obscura
Houve triste como eu no apartamento
Desde que se afastara o encantamento
Do Sol que o meu olhar sempre procura.
Tenho o pranto por única ventura,
É dor o riso e absinto o mantimento,
E eu vejo turvo o claro firmamento,
E o leito é campo de batalha dura.
O sono é na verdade qual se diz
Irmão da morte e o peito nosso priva
Deste doce pensar que sempre o aviva.
Só no mundo felice e elmo país
Verdes ribas e florido recanto,
Vós possuís o bem que eu choro tanto.
“Espera que a fama há-de compensar o seu atual tormento”Francesco Petrarca
(Tradução de Almansur Haddad)
Doce ira, doce mal, doce brandura,
Doce afã, doce peso que hei sentido,
Doce par tão docemente ouvido,
E que é doce de luz ou de aura pura.
Alma, sofre calada o que tortura,
Mitiga o doce afã que te há ofendido
Com o doce louvor que hás recebido
Por esta que é minha única ventura.
Dia virá que suspirando diga
Alguém cheio de inveja: Assás sofrera
Este por belo amor e seu enredo.
Outros: Ó sorte dura e tão inimiga!
Por que esta doce dama não nascera
Pouco mais tarde ou eu pouco mais cedo?
Frencesco Petrarca, ilustre poeta italiano, nasceu em Arezzo a 20 de Julho de 1304, e morreu em Arqua, nas imediações de Pádua, aos 18 de Julho de 1374.